Apostas Esportivas online e o jogo do bicho
As apostas esportivas online (popularmente chamadas de bets) e o jogo do bicho são duas formas de jogo de azar com funcionamentos bem distintos. Nas apostas esportivas, o participante realiza palpites em resultados de eventos esportivos reais (futebol, por exemplo) por meio de sites ou aplicativos na internet. As plataformas digitais oferecem diversas modalidades de apostas (placar exato, vencedor da partida, número de gols etc.), com cotas (odds) pré-definidas – ou seja, o apostador sabe de antemão quanto pode ganhar caso acerte o palpite. O dinheiro é depositado eletronicamente (cartão, boleto, Pix) e os prêmios caem na conta do jogador se ele vencer. Todo o processo é online, rápido e acontece em um ambiente concorrencial global entre diversas casas de aposta.
Já o jogo do bicho, uma tradição centenária no Brasil, funciona de forma mais simples e informal. As apostas são feitas presencialmente em pontos de venda ou com um apontador (geralmente bancas de rua ou bares) – nada de internet. O jogo consiste em escolher números associados a animais (de 00 a 99, correspondendo a 25 bichos). Os sorteios ocorrem em horários fixos diariamente, e os prêmios dependem da quantidade apostada e das combinações sorteadas. Por exemplo, se o jogador acerta o número exato, ganha um prêmio multiplicado por uma tabela predefinida pela banca. Não há odds variáveis nem múltiplas opções de aposta: a mecânica lembra uma loteria fixa. Além disso, o pagamento das apostas e dos prêmios no jogo do bicho é em dinheiro vivo, diretamente na banca, e tudo se baseia na confiança entre apostador e banqueiro (pois a atividade é ilegal e não regulamentada formalmente).
Em resumo, as principais diferenças são:
- Ambiente de aposta: bets em plataformas online versus bicho em bancas de rua;
- Tipos de aposta: bets com variados eventos esportivos e odds dinâmicas; bicho com números fixos relacionados a animais;
- Pagamento e prêmio: bets usam meios eletrônicos e oferecem pagamentos imediatos na conta do usuário; bicho opera em dinheiro vivo, com prêmios pagos presencialmente;
- Alcance e escala: bets têm alcance nacional/internacional instantâneo via internet, enquanto o bicho atua localmente em comunidades;
- Legalidade: apostas esportivas foram legalizadas e regulamentadas recentemente, ao passo que o jogo do bicho permanece ilegal (contravenção penal) desde 1946.
Essa última diferença – a situação legal – tem impactos diretos no funcionamento. Por ser legal (desde a Lei 13.756/2018, regulamentada em 2023), o mercado de apostas esportivas no Brasil opera em um ambiente de concorrência formal, com empresas disputando clientes via marketing, promoções e patrocínios esportivos. Já o jogo do bicho funciona à margem da lei, de forma clandestina e sem qualquer fiscalização oficial. Isso faz com que as bets possam oferecer uma experiência mais sofisticada (apps modernos, suporte ao cliente, variedade de jogos integrados como cassinos online), enquanto o bicho mantém um caráter mais raiz e tradicional, restrito às suas regras históricas e à rede de banqueiros e apontadores que o sustenta.
Tamanho e crescimento do mercado de apostas vs. jogo do bicho
Nos últimos anos, as apostas esportivas online explodiram em popularidade e volume de dinheiro no Brasil, superando o tradicional jogo do bicho. Dados recentes de 2024 mostram que os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês em sites de apostas noticias.uol.com.br. Isso representa quase R$ 140 bilhões em apostas por ano noticias.uol.com.br, um montante impressionante que já coloca o Brasil como o terceiro maior mercado de apostas online do mundo, atrás apenas de EUA e Reino Unidonoticias.uol.com.br. A quantidade de apostadores também chama atenção: 24 milhões de brasileiros (aproximadamente um quarto da população economicamente ativa) fizeram alguma aposta online em 2024 noticias.uol.com.br.
Em contraste, o jogo do bicho movimenta cifras bem menores atualmente. Embora seja difícil obter números precisos (por se tratar de atividade ilegal e não declarada), estimativas de estudos e do próprio Congresso indicam que o bicho gira em torno de R$ 12 bilhões por ano www1.folha.uol.com.br. Ou seja, em termos de volume financeiro, o mercado de bets online já é mais de dez vezes maior que o do jogo do bicho. Esse crescimento das apostas esportivas foi muito acelerado: só entre 2020 e 2023, o faturamento bruto das bets saltou de R$ 7 bilhões para cerca de R$ 12 bilhões (aumento de 71%), segundo dados do BNLData exame.com. Entre 2022 e 2023, houve uma multiplicação de casas de aposta atuando no país – o número de empresas praticamente dobrou (+140%) nesse período, acompanhando o boom de demanda.
Para visualizar melhor a comparação, veja a tabela abaixo com alguns indicadores de cada modalidade:
Indicador | Apostas esportivas (online) | Jogo do bicho (tradicional) |
---|---|---|
Status legal no Brasil | Legalizado em 2018; regulamentado em 2023 com autorização federal. | Ilegal (contravenção penal desde 1946); prática clandestina sem regulação. |
Volume anual de apostas | ~R$ 140 bilhões (2024)noticias.uol.com.br | ~R$ 12 bilhõeswww1.folha.uol.com.br |
Crescimento recente | +71% de faturamento (2020–2023)exame.com; forte expansão online e novos entrantes no mercado. | Estagnado ou em declínio; popularidade caindo entre os jovens. |
Participação de apostadores | 32,1% dos apostadores jogam em betsbnldata.com.br (2º jogo de azar mais popular no país, atrás apenas das loterias oficiais). | 28,9% dos apostadores jogam no bichobnldata.com.br (ultrapassado pelas bets em alcance). |
Número de apostadores estimado | 24 milhões/ano (2024)noticias.uol.com.br – maioria jovens adultos. | Alguns milhões (sem dado exato); maioria dos jogadores já acima de 50 anosnoticias.uol.com.br. |
Empregos gerados | Indústria formal nascente (sites, marketing, TI); patrocínios esportivos R$ 3,5 bi/ano em 2023exame.com. | ~450 mil pessoas trabalhando informalmente (apontadores, banqueiros etc.)www1.folha.uol.com.br; influência em economia local (ex: carnaval). |
Tabela 1: Comparativo entre apostas esportivas online e jogo do bicho no Brasil.
Como visto acima, as apostas esportivas superaram o jogo do bicho em praticamente todos os aspectos de mercado: movimentam muito mais dinheiro, cresceram em ritmo acelerado e já contam com mais adeptos do que o bicho. Uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça em 2025 confirmou essa virada – enquanto 32,1% dos jogadores apostam nas “bets” online, 28,9% apostam no jogo do bicho bnldata.com.br. Pela primeira vez, o bicho ficou atrás das apostas esportivas em popularidade, sendo desbancado e relegado à terceira colocação (a primeira são as loterias federais, com 71,3% de adesão dos apostadores bnldata.com.br).
Também chama atenção o investimento maciço das empresas de apostas esportivas no Brasil, algo impossível de ocorrer no jogo do bicho devido à ilegalidade. Em 2023, as empresas de betting investiram cerca de R$ 3,5 bilhões em patrocinadores ligados ao futebol brasileiro (patrocínio de camisas de clubes, placas em campeonatos, publicidade em TV etc.) exame.com. Praticamente todos os grandes clubes de futebol do país fecharam contratos com sites de aposta, tornando suas marcas onipresentes. Esse alto investimento publicitário impulsionou ainda mais a popularidade das bets. Já o bicho, por operar na clandestinidade, nunca teve essa exposição na mídia – seu alcance se deu de forma mais boca a boca e tradicional.
Em termos regionais e culturais, as bets ganharam força nacionalmente de maneira homogênea, ao passo que o jogo do bicho tradicionalmente foi mais forte em algumas regiões (por exemplo, no Rio de Janeiro, berço do bicho, existiam 35 mil pontos de aposta no estado segundo estimativas de 2017 oglobo.globo.com). Hoje, porém, mesmo no Rio, muitos desses apostadores migraram para as plataformas online em busca de prêmios maiores e mais variedade de jogos noticias.uol.com.br. Essa migração geracional tem impulsionado o declínio relativo do bicho frente às apostas esportivas.
Perfil dos apostadores: bets online vs. jogadores do bicho
O perfil do público que aposta em cada modalidade também difere bastante, conforme pesquisas recentes de mercado e estudos sociológicos. As apostas esportivas online atraem majoritariamente um público jovem, masculino e de classe média baixa. A maioria dos apostadores em bets tem entre 20 e 30 anos de idade noticias.uol.com.br e vem das classes C, D e E da sociedade. Um estudo do Instituto Locomotiva e dados do Banco Central revelam que os brasileiros de menor renda estão altamente engajados nas bets: um em cada quatro trabalhadores de baixa renda faz aposta ao menos uma vez por mês, e cerca de 86% desses apostadores de renda baixa estão endividados noticias.uol.com.br. Ou seja, as bets conquistaram uma parcela vulnerável da população, muitas vezes atraída pela esperança de “fazer uma fezinha” e mudar de vida rapidamente. De fato, o termo “bets” virou sinônimo de oportunidade de ganho fácil e se popularizou no vocabulário nacional. Hoje, estima-se que até 25% dos beneficiários do Bolsa Família destinem parte do benefício a apostas online – aproximadamente R$ 3 bilhões anuais do programa social teriam ido parar nas contas das casas de aposta noticias.uol.com.br.
Por outro lado, o jogador típico do jogo do bicho tem um perfil mais velho e tradicional. Segundo reportagem do New York Times (via UOL), a maioria dos apostadores do bicho tem mais de 50 anos de idade noticias.uol.com.br. Esse dado sociológico indica que as gerações mais novas não estão aderindo ao bicho na mesma proporção, preferindo as modalidades modernas. O bicheiro e seu ponto de aposta fazem parte do imaginário de gerações passadas – muitos idosos e pessoas de meia-idade cresceram vendo familiares “fazerem uma fezinha” no bicho diariamente. Há também uma participação significativa de mulheres aposentadas e trabalhadores informais que mantêm o hábito de apostar pequenas quantias no bicho todos os dias, movidos pela tradição e pela familiaridade com a banca local. Entretanto, entre os jovens de hoje, o bicho perdeu apelo, visto como algo “do tempo dos avós”, enquanto os aplicativos de aposta esportiva trazem a emoção em tempo real dos jogos de futebol e a conveniência digital.
Outro aspecto importante é o padrão de consumo e frequência: o apostador de bets online tende a apostar com maior frequência ao longo da semana (alguns diariamente, em múltiplos jogos e até de madrugada, dada a disponibilidade 24 horas das plataformas). Já no jogo do bicho, tradicionalmente, faz-se uma aposta por dia ou por sorteio, muitas vezes no horário do almoço ou fim da tarde, e os valores envolvidos costumam ser bem baixos (apostas de centavos ou poucos reais são comuns no bicho). Enquanto um jovem pode depositar R$50 numa plataforma e fazer diversas apostas ao longo de um campeonato, um senhor aposentado pode apostar R$2 no “grupo do cachorro” no bicho e esperar o resultado do dia. Essa diferença de comportamento reflete perfis distintos de apostadores: as bets estimulam um engajamento mais intenso e contínuo, ao passo que o bicho tem um ritmo mais cadenciado e casual.
Em termos de motivação, pesquisas qualitativas indicam que jogadores de bets buscam entretenimento e a possibilidade de ganhos altos instantâneos (alguns influenciados por publicidade massiva e pelos exemplos de amigos). Já muitos apostadores do bicho encaram o jogo quase como um ritual social ou superstição diária – “jogar no bicho” faz parte da rotina, alimentada por sonhos com determinados animais ou palpites passados de geração em geração. Sociologicamente, o bicho criou toda uma cultura própria (com jargões, bichos da sorte, dezenas “viciadas”, etc.), enquanto as bets estão inseridas na cultura esportiva e digital contemporânea.
Legalização e regulamentação: apostas esportivas vs. jogo do bicho
No quesito legal e regulatório, apostas esportivas e jogo do bicho seguem caminhos opostos no Brasil. As apostas esportivas de quota fixa foram legalizadas em 2018 por meio da lei 13.756/2018, porém a operacionalização dependia de regulamentação. Essa regulamentação finalmente veio no segundo semestre de 2023, quando o Congresso Nacional aprovou o marco regulatório das apostas esportivas online – posteriormente sancionado como a Lei 14.183/2023 (popularmente chamada de “PL das Apostas”). Com isso, a partir de janeiro de 2025 o Brasil passou a ter um mercado regulado de apostas esportivas, exigindo que as casas obtenham licença do Ministério da Fazenda para operar legalmentegamesbras.com. As regras preveem pagamento de outorgas (cerca de R$ 30 milhões por licença de 5 anos) e tributação sobre a receita das empresas e os prêmios dos apostadores oglobo.globo.com
economia.uol.com.br. O objetivo do governo com a regulamentação foi controlar a atividade, proteger os consumidores e, de quebra, aumentar a arrecadação de impostos. Estimativas iniciais apontaram que as outorgas e impostos sobre as bets poderiam render entre R$ 3 a R$ 6 bilhões anuais aos cofres públicos já a partir de 2024 infomoney.com.br.
Enquanto isso, o jogo do bicho permanece ilegal. Ele é considerado uma contravenção penal pela legislação brasileira (Decreto-Lei 6.259/1944, Lei de Contravenções Penais), o que significa que organizá-lo ou praticá-lo é infração sujeita a penas leves (geralmente multa e apreensão de materiais, raramente prisão). Apesar da proibição formal desde a década de 1940, o bicho sempre operou à sombra da lei com grande tolerância social, especialmente em alguns estados. Bicheiros famosos fizeram fortuna e exerceram influência política e econômica durante décadas, financiando escolas de samba, campanhas políticas e eventos locais – tudo isso sem qualquer regulamentação ou pagamento de impostos de jogo.
Nos últimos anos, porém, o avanço das bets reacendeu o debate sobre a legalização de outras modalidades de jogos de azar, incluindo o jogo do bicho. Tramita no Congresso há bastante tempo o Projeto de Lei 442/1991, que visa legalizar e regulamentar cassinos, bingos, jogo do bicho e outras apostas. Esse PL chegou a ser aprovado na Câmara dos Deputados em fevereiro de 2022 (incluindo em seu texto a legalização do bicho) www1.folha.uol.com.br, mas enfrenta resistência no Senado Federal e ainda não se tornou lei. Um dos desafios apontados por especialistas é como integrar os operadores ilegais do bicho ao mercado formal. Muitos dos atuais banqueiros do jogo do bicho não teriam como se adequar às exigências legais (como comprovar origem lícita do dinheiro, cumprir requisitos de ficha limpa etc.) e poderiam optar por continuar na ilegalidade mesmo se houver legalização parcial www1.folha.uol.com.br. Ou seja, há o risco de uma legalização “inócua”, em que empresas novas entrariam no mercado formal, mas a rede clandestina atual permaneceria operando paralelamente – semelhante ao que já ocorreu em outros países. O sociólogo Michel Misse, especialista em contravenções no RJ, ressalta que os bicheiros comandam uma estrutura complexa (com vendedores, seguranças, contadores, advogados) difícil de desmontar, e nunca foram entusiastas da legalização justamente para não abrir mão de seus negócios lucrativos na clandestinidade www1.folha.uol.com.br.
Por ora, o fato é que as apostas esportivas gozam de uma situação de semi-legalidade vantajosa – já regulamentadas federalmente, mas ainda em fase inicial de licenciamento – enquanto o jogo do bicho segue totalmente à margem da lei. Na prática, isso significa que as bets podem fazer propaganda livremente (embora haja projetos para restringir a publicidade de apostas devido a preocupações sociais) e operar abertamente, ao passo que as bancas do bicho vivem sob o risco de operações policiais e precisam se esconder sob outras fachadas. Ainda assim, muitos argumentam que regulamentar o jogo do bicho poderia trazer benefícios como arrecadação de impostos e maior controle estatal da atividade vlvadvogados.com. Até membros do setor de apostas esportivas, como André Gelfi (presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável), já se declararam favoráveis a incluir o bicho num marco legal adequado, afirmando que se há interesse da sociedade na atividade e ela pode ser trabalhada de forma a atender ao interesse coletivo, deve ser regulamentada gamesbras.com. Essa visão busca tanto reduzir danos como aproveitar o potencial econômico hoje perdido na clandestinidade.
Impacto social e econômico de cada modalidade
A ascensão das apostas esportivas e a persistência do jogo do bicho trazem impactos distintos para a sociedade e a economia brasileiras. Do ponto de vista econômico e de arrecadação, as bets despontam como um novo filão: com a regulamentação, o governo espera colher bilhões em tributos e taxas, recursos que podem ser destinados a áreas como seguridade social e segurança pública (conforme previsto na lei das apostas) www1.folha.uol.com.br infomoney.com.br. Além disso, o setor de apostas online tem impulsionado a economia do esporte e da tecnologia – gerando patrocínios, publicidade e demanda por serviços de marketing, TI e meios de pagamento. Grandes eventos esportivos agora movimentam não só torcidas, mas também uma indústria paralela de apostas em tempo real, o que aquece a economia de forma indireta. Por exemplo, plataformas de pagamento relatam volumes altíssimos de transações via Pix para sites de aposta (cerca de R$ 20 bi mensais apenas via Pix, segundo dados de 2023) br.cointelegraph.com. Esse dinheiro circulando pelas bets acaba alimentando bancos, fintechs e até investimentos em campeonatos de e-sports, criando um ecossistema econômico em torno do jogo online.
O jogo do bicho, por sua vez, sempre fez parte da economia informal. Ele gera renda para milhares de pessoas – estima-se que 450 mil brasileiros trabalhem nessa cadeia do bicho (banqueiros, apontadores, cobradores, gerentes) www1.folha.uol.com.br – mas essa movimentação não se converte em impostos ou indicadores formais. Em vez disso, parte dos lucros do bicho tradicionalmente financiou atividades paralelas (algumas lícitas, outras nem tanto). Culturalmente, o bicho teve um impacto importante financiando o Carnaval no Rio de Janeiro e obras sociais pontuais em comunidades carentes através da figura do bicheiro-benfeitor. Contudo, também fomentou corrupção e violência: há registros históricos de suborno a policiais e disputas entre quadrilhas de contraventores pelo controle de territórios de apostas. Esse lado sombrio não aparece nas bets online de forma equivalente – embora existam preocupações com lavagem de dinheiro em sites de aposta, o fato de estarem entrando num regime regulado traz mais transparência comparativamente à estrutura do bicho.
No campo social e de saúde pública, os dois jogos levantam alertas, mas atualmente as bets têm sido foco de maior preocupação. Por serem amplamente acessíveis e anunciadas a todo momento (em TV, na internet, com celebridades promovendo), as apostas esportivas online estão levando muitas pessoas ao endividamento e comportamento compulsivo. Autoridades de saúde e segurança no Brasil já equiparam o vício em jogos de aposta a outras dependências químicas bnldata.com.br. Um levantamento nacional (Lenad/Unifesp 2023) revelou que 38,6% dos apostadores exibem algum grau de risco ou transtorno de vício em jogo bnldata.com.br. O dado mais preocupante: adolescentes e jovens adultos são os mais vulneráveis – 55% dos apostadores de 14 a 17 anos apresentam risco de desenvolver problemas com jogo bnldata.com.br. Com a proliferação das bets, esse problema se acentuou, colocando o tema de jogo responsável em pauta. Não por acaso, o Ministério da Justiça incluiu o comportamento de aposta no radar do recém-criado Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid) e discute políticas de prevenção e tratamento para ludopatia (vício em jogos) bnldata.com.br br.cointelegraph.com.
O jogo do bicho também pode causar dependência, mas pelo seu formato limitado e menores valores envolvidos, historicamente o impacto social negativo era percebido de forma mais amena ou restrita. Muitas pessoas encaram o bicho como uma diversão inocente do dia a dia – “um cafézinho que se gasta” – e não chegam a perder fortunas nele. Entretanto, há casos de apostadores patológicos no bicho, sim, e famílias prejudicadas financeiramente. A diferença é que, por ser uma prática localizada, o alcance do dano era mais contido e menos visível estatisticamente. Já com as bets, o impacto na sociedade é amplo e visível: além do endividamento individual, estudiosos apontam que o dinheiro drenado para jogos online pode estar reduzindo o consumo em outras áreas da economia. A Confederação Nacional do Comércio estimou recentemente que o avanço das apostas vem “sequestrando” parte da renda que as famílias gastariam em comércio e serviços tradicionais, redirecionando-a para o ambiente de jogos onlinenoticias.uol.com.br. Ou seja, há um efeito colateral macroeconômico a ser considerado.
Por fim, vale mencionar a percepção cultural e moral. O jogo do bicho, apesar de ilícito, é visto com certo romantismo cultural no Brasil – um “pecado perdoável” inscrito na memória popular e até retratado em novelas e samba. Já as apostas esportivas, sendo novidade, ainda enfrentam um misto de euforia e estigma. Por um lado, muitos celebram a liberação das bets como mais uma forma de entretenimento e geração de renda (inclusive com promessas de milhares de empregos formais no setor de jogos se o mercado for ampliado). Por outro, há quem alerte que estamos diante de uma nova epidemia de jogo, atingindo principalmente os jovens e os pobres, num país já vulnerável. Não por acaso, discute-se banir ou restringir propagandas de apostas, e promover campanhas de jogo responsável, para mitigar esses efeitos.
Conclusão
Em conclusão, as apostas esportivas no Brasil cresceram a ponto de superar o jogo do bicho em relevância, tornando-se a “nova fezinha” nacional. As bets oferecem tecnologia, instantaneidade e altos prêmios, conquistando um público massivo e revolucionando o mercado de apostas brasileiro noticias.uol.com.br. Em contrapartida, o tradicional jogo do bicho, outrora dominante, enfrenta um declínio relativo – limitado pela ilegalidade, por um perfil de apostadores envelhecido e por prêmios menos atrativos.
Do ponto de vista econômico e legal, o país vive uma transformação: sai de um cenário onde o grosso das apostas ocorria na clandestinidade (bicho, bingos, jogo ilegal) para um cenário em que as apostas online, agora legalizadas, geram negócios bilionários e entram na rotina das pessoas. Esse movimento traz oportunidades de arrecadação e crescimento de mercado, mas também acende sinais de alerta no que tange à saúde pública e à inclusão social. Legalização das apostas em geral – incluindo possivelmente o jogo do bicho – surge como um tema urgente, para que se possa regulamentar práticas existentes, diminuir a participação do mercado ilegal e proteger os cidadãos. Afinal, conforme observadores apontam, proibir jogos populares como o bicho raramente funciona a longo prazo gamesbras.com; a tendência global tem sido integrar essas práticas à economia formal de maneira responsável.
Assim, ao comparar apostas esportivas e jogo do bicho, vemos um retrato de mudança dos tempos: a modernização tecnológica e a liberalização controlada transformaram a forma como os brasileiros apostam. As bets vieram com força e, ao que tudo indica, vieram para ficar – cabendo às autoridades e à sociedade maximizar seus benefícios (arrecadação, empregos, patrocínio esportivo) e mitigar seus malefícios (vício, endividamento, ilegalidade remanescente). Enquanto isso, o jogo do bicho vai sobrevivendo como patrimônio cultural underground, possivelmente aguardando sua vez de sair da sombra para a legalidade, ou correndo o risco de, lentamente, ficar para a história.
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