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Dia Nacional do Café: como manter o consumo sem amargar o bolso

Apesar da alta nos preços, o consumo de café segue firme no Brasil; entenda os motivos da alta e veja dicas para economizar sem abrir mão do cafezinho

O Dia Nacional do Café, celebrado em 24 de maio, homenageia uma das paixões nacionais mais enraizadas na cultura brasileira. Seja coado na hora, expresso, com leite, adoçado ou amargo, o café está presente na rotina de milhões de brasileiros — do início da manhã ao fim do expediente. Mas, nos últimos tempos, o sabor desse hábito diário vem sendo acompanhado de um amargor extra: o aumento expressivo no preço do produto.

Segundo dados do CEPEA/ESALQ, a saca de 60 kg do café arábica chegou a R$ 2.769 em fevereiro de 2025, o maior valor já registrado. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apontou que o café moído subiu 80,2% nos últimos 12 meses. Diante dessa realidade, consumidores buscam alternativas para não abrir mão da bebida, mas sem comprometer o orçamento.

Por que o preço do café disparou?

O aumento dos preços do café não é uma questão exclusivamente nacional. A cadeia produtiva global da bebida tem enfrentado problemas climáticos, aumento da demanda internacional e volatilidade cambial. Especialmente em 2025, fatores combinados contribuíram para essa disparada:

  • Quebra de safra no Vietnã, o maior exportador mundial de café;
  • Altas temperaturas e seca no Brasil, afetando especialmente lavouras em Minas Gerais e São Paulo;
  • Alta do dólar, que incentivou as exportações e reduziu a oferta interna;
  • Aumento da demanda global, pressionando os estoques.

O resultado é uma cadeia de produção mais cara e um impacto direto no bolso do consumidor brasileiro.

Consumo de café no Brasil se mantém alto

Mesmo diante dos aumentos de preço, o consumo de café no Brasil segue firme. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em 2024 o consumo interno cresceu 1,1%, totalizando 21,9 milhões de sacas. O Sudeste é a região líder em consumo, com destaque para o estado do Rio de Janeiro.

Além disso, o Brasil mantém o posto de segundo maior consumidor de café do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. A ABIC também informou que foram consumidas 54,2 milhões de sacas em 2024 no total (mercado interno + externo), o que mostra a força da cultura cafeeira nacional.

Como economizar no café sem abrir mão do sabor?

Diante da alta dos preços, o consumidor precisa adotar estratégias para economizar sem deixar de consumir a bebida. O especialista Fabrício Tonegutti, diretor da Mix Fiscal, recomenda:

1. Pesquisar antes de comprar

Os preços do café podem variar bastante entre mercados, marcas e regiões. Aproveitar promoções, descontos por quantidade e programas de fidelidade pode gerar uma boa economia ao longo do mês.

2. Testar marcas alternativas

Nem sempre as marcas mais conhecidas oferecem o melhor custo-benefício. Marcas menos populares ou de produção regional podem surpreender na qualidade e no preço.

3. Comprar em maior quantidade

Se possível, adquirir pacotes maiores pode reduzir o custo por quilo. Outra dica é comprar em cooperativas ou direto de produtores.

4. Evitar desperdício

Prepare apenas a quantidade que será consumida no momento. O café perde sabor ao longo do tempo e, se sobrar, pode acabar indo para o lixo.

5. Moer na hora, se possível

Quem consome café em grãos pode optar por moer na hora, o que preserva o sabor e a durabilidade do produto — além de permitir que você regule a moagem de acordo com o tipo de preparo.

Expectativas para a safra 2025: alívio ou mais pressão?

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de café 2025 deve crescer 2,7% em comparação com 2024, alcançando 55,7 milhões de sacas. Caso confirmada, será a maior colheita em um ano de baixa bienalidade, superando o volume de 2023.

Apesar da previsão otimista, especialistas como Tonegutti alertam que os preços devem continuar elevados ao longo de 2025, devido à recuperação lenta dos estoques e à continuidade dos problemas climáticos globais.

O papel da ciência e da pesquisa na cafeicultura

Em São Paulo, a ciência tem sido uma grande aliada da produção cafeeira. O estado abriga importantes instituições de pesquisa como o Instituto Biológico e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que há décadas contribuem com inovações tecnológicas para o setor.

Cafezal Urbano e sustentabilidade

O Cafezal Urbano, localizado na zona sul de São Paulo, é um projeto do Instituto Biológico que visa promover a cafeicultura regenerativa — uma forma de cultivo sustentável que busca restaurar o solo e reduzir o uso de defensivos químicos. A pesquisadora Harumi Hojo, à frente do projeto, destaca que o trabalho no local tem contribuído para o desenvolvimento de mudas mais resistentes às mudanças climáticas.

“Temos essa preocupação de não aumentar a alternativa de irrigação. Priorizando o solo, quem sabe a gente consiga fazer ele reter mais água”, diz a cientista.

Genética e melhoramento no IAC

O IAC, fundado em 1932, é responsável por desenvolver 85% das variedades de café arábica plantadas no Brasil. O engenheiro agrônomo Oliveiro Guerreiro, que trabalha com melhoramento genético no instituto, explica que o desenvolvimento de uma nova variedade pode levar até 20 anos.

“O café é uma planta de ciclo longo. Precisamos garantir a continuidade dos programas para termos resultados consistentes”, afirma Guerreiro.

Café e mudanças climáticas

As mudanças climáticas são uma das principais ameaças à cafeicultura mundial. O aumento de temperaturas, secas prolongadas, geadas e chuvas em excesso afetam diretamente a produtividade dos cafezais.

A jornalista especializada em café, Virgínia Alves, explica que o Brasil vinha mantendo crescimento constante por duas décadas, mas a partir de 2020 enfrentou um cenário adverso, com quedas significativas na produção de arábica.

“O café é uma commodity negociada em bolsa. A escassez global justifica a valorização dos preços. Vietnã e Colômbia também enfrentam problemas, o que pressiona ainda mais o mercado”, diz Virgínia.

A importância da continuidade dos programas de pesquisa

O desenvolvimento de novas cultivares resistentes a pragas, secas e variações climáticas é essencial para garantir o futuro da produção cafeeira. Isso só é possível com investimento contínuo em pesquisa, capacitação de profissionais e políticas públicas que garantam a sustentabilidade do setor.

“A continuidade é essencial. Sem ela, não há inovação nem segurança alimentar”, reforça Oliveiro Guerreiro.

São Paulo e o café: do protagonismo à inovação

São Paulo já foi o maior produtor de café do Brasil, especialmente no início do século XX. Hoje, embora tenha perdido espaço para outros estados como Minas Gerais, o estado ainda responde por 10% da produção nacional.

Mais do que isso, São Paulo é um centro logístico, científico e industrial da cadeia do café:

  • Hospeda empresas de café solúvel e torrado/moído;
  • É sede de institutos de pesquisa renomados;
  • Possui portos estratégicos para exportação;
  • Conta com cafeterias de ponta e cultura gourmetizada crescente.

“Se fosse um país, São Paulo estaria entre os maiores produtores do mundo. Hoje concentra o global da cadeia produtiva”, diz Guerreiro.

Conclusão: como seguir tomando café sem pesar no orçamento?

O cenário atual exige consumo consciente, valorização de marcas locais, apoio à produção sustentável e, sempre que possível, pesquisa de preços. O café continua sendo um elo afetivo na vida dos brasileiros, mas para manter esse hábito de forma acessível é preciso atenção e adaptação.

Celebrar o Dia Nacional do Café é mais do que tomar uma xícara; é também reconhecer o trabalho por trás da produção, apoiar a ciência que sustenta o futuro do setor e encontrar meios de continuar apreciando essa paixão nacional — mesmo em tempos de alta de preços.

João das Bets

"Sou um escritor movido pela paixão por tecnologia, apostas e inteligência artificial. Adoro explorar e compartilhar conhecimentos, traduzindo ideias complexas em conteúdo acessível e inspirador. Sempre em busca de novas formas de conectar pessoas com inovação."

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