Introdução: Um Gênio Mesmo doente
No futebol, existem craques. Mas existem também os gênios, capazes de mudar o rumo de uma partida mesmo sob as piores condições. E foi exatamente isso que Garrincha fez nas quartas de final da Copa do Mundo de 1958. Com febre alta e debilitado, o camisa 7 da Seleção Brasileira protagonizou um dos maiores espetáculos individuais da história do futebol — justamente contra a poderosa União Soviética.
Neste artigo, vamos relembrar esse jogo histórico, entender o contexto da época, a condição física de Garrincha, sua atuação mágica e o impacto desse momento no futebol mundial. Uma história de superação, arte e futebol na sua forma mais pura.
O Contexto da Copa de 1958
A Copa do Mundo de 1958 foi realizada na Suécia. O Brasil chegou à competição com uma geração promissora, ainda em busca de seu primeiro título mundial. Após o trauma do Maracanazo em 1950, a seleção brasileira buscava afirmação e um novo caminho para a glória.
Tabela: Fase de Grupos da Seleção Brasileira
Partida | Resultado | Destaques |
---|---|---|
Brasil 3 x 0 Áustria | Vitória | Estreia com domínio total |
Brasil 0 x 0 Inglaterra | Empate | Jogo truncado |
Brasil 2 x 0 União Soviética | Vitória | Garrincha e Pelé titulares pela 1ª vez |
A partida contra a União Soviética foi decisiva: quem perdesse, estaria fora da Copa. Era um jogo de vida ou morte no torneio.
A Situação Física de Garrincha
Garrincha chegou ao jogo com 39°C de febre e sintomas semelhantes aos da gripe. Muitos médicos e membros da comissão técnica sugeriram que ele não fosse a campo.
“Ele mal conseguia ficar de pé no vestiário. Mas dizia que queria jogar” — Relato de Nilton Santos, companheiro de equipe.
Mesmo debilitado, Garrincha insistiu em jogar. E o que se viu em campo foi um espetáculo raro, daqueles que só ele sabia proporcionar.
O Jogo: Brasil x União Soviética
Data: 15 de junho de 1958
Local: Estádio Nya Ullevi, Gotemburgo
Resultado: Brasil 2 x 0 União Soviética
O técnico Vicente Feola finalmente escalou Pelé e Garrincha como titulares pela primeira vez juntos. E a diferença foi imediata.
O Começo Alucinante
Nos primeiros 3 minutos de jogo, o Brasil já havia criado três grandes chances, todas nos pés de Garrincha. A sequência é considerada uma das mais impressionantes da história das Copas:
- 1º minuto – Garrincha dribla três adversários e chuta no travessão.
- 2º minuto – Recebe passe de Pelé e obriga o goleiro soviético a grande defesa.
- 3º minuto – Serve Didi, que chuta rente à trave.
“Garrincha desmontou a defesa da União Soviética sozinho” — Mario Filho, cronista esportivo
Os Gols da Partida
1º Gol – Vavá (3 minutos)
Após jogada de Garrincha pela direita, Didi cruza e Vavá empurra para o gol. Foi o início do domínio brasileiro.
2º Gol – Vavá (76 minutos)
Em jogada coletiva que começou com Pelé, o camisa 9 ampliou o placar e sacramentou a vitória.
O Que Disseram Sobre Garrincha
- “Nunca vi um jogador fazer o que ele fez em 3 minutos” — Bobby Robson, técnico inglês
- “Era como ver um adulto jogando com crianças” — Jornal sueco Aftonbladet
Mesmo doente, Garrincha driblava com a leveza de sempre, distribuía passes milimétricos e parecia intocável. Foi o início do mito, que se confirmaria ainda mais nos jogos seguintes.
Estatísticas de Garrincha na Partida
Estatística | Números |
---|---|
Dribles bem-sucedidos | 13 |
Passes decisivos | 5 |
Finalizações | 4 (2 no alvo) |
Faltas sofridas | 7 |
Minutos jogados | 90 minutos |
Esses números seriam impressionantes em qualquer situação — mas tornam-se quase sobrenaturais diante do fato de que Garrincha estava jogando febril e debilitado.
O Nascimento de uma Lenda
A atuação de Garrincha nessa partida foi um divisor de águas. Até então, ele era uma promessa. A partir desse jogo, virou ídolo e titular absoluto.
Além disso, o Brasil encontrou seu trio mágico: Pelé, Garrincha e Vavá, que levaria a seleção ao inédito título mundial.
Efeitos da Partida:
- Garrincha foi apelidado de “O Anjo das Pernas Tortas”.
- Críticos começaram a apontá-lo como o maior driblador da história.
- O Brasil passou a ser temido pelos adversários nas fases seguintes.
Garrincha na Copa de 1958
Tabela: Desempenho na Copa de 1958
Jogo | Resultado | Destaque de Garrincha |
---|---|---|
Brasil 2 x 0 URSS | Vitória | Jogada histórica com febre |
Brasil 1 x 0 País de Gales | Vitória | Assistência para Pelé |
Brasil 5 x 2 França | Vitória | Participação em 2 gols |
Brasil 5 x 2 Suécia (Final) | Vitória | Dribles e assistência para Pelé |
Garrincha foi essencial na conquista da primeira estrela da seleção brasileira.
A Imortalidade do Gênio
Mesmo com uma vida pessoal conturbada e um fim de carreira triste, Garrincha deixou legado eterno. Em 2002, foi eleito pela FIFA como um dos 100 maiores jogadores de todos os tempos.
“Pelé é o rei, mas Garrincha foi a alegria do povo” — Nelson Rodrigues
Conclusão: Quando o Futebol é Arte, Nem a Febre Segura
A atuação de Garrincha contra a União Soviética, mesmo com febre, é uma das maiores demonstrações de genialidade, coragem e amor pelo futebol.
Naquela tarde sueca, o mundo descobriu que existia um jogador capaz de encantar mesmo em estado febril, de fazer rir com um drible, de calar um estádio com um toque de mágica. Garrincha não jogava. Garrincha dançava com a bola.