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GUERRA ABERTA: Febraban e Nubank travam a maior batalha de narrativas da história bancária recente; entenda os detalhes

Por Redação de Portal das Apostas
Sexta-feira, 05 de dezembro de 2025 | 15:00

O sistema financeiro nacional viveu nas últimas 24 horas um de seus episódios mais tensos. O que antes eram alfinetadas sutis em bastidores de Brasília tornou-se, nesta sexta-feira (05), uma guerra declarada e pública entre a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) — representante dos gigantes como Itaú, Bradesco e Santander — e o Nubank, a maior fintech da América Latina.

O conflito transcende a disputa por clientes: ele envolve acusações de patriotismo fiscal, distorções regulatórias, abuso na cobrança de juros e a estrutura de capital de uma das empresas mais valiosas do país.

Abaixo, dissecamos todos os pontos dessa crise, explicando o “techniquês” por trás das acusações.


1. O Estopim: A Provocação do “Campeão de Impostos”

A crise atual explodiu após David Vélez, fundador e CEO do Nubank, publicar um gráfico em sua rede social (LinkedIn) nesta semana.

  • A Afirmação de Vélez: O executivo afirmou que, entre janeiro e setembro de 2025, o Nubank pagou R$8,22 bilhoes em impostos,superando individualmente Itauˊ(R8,22bilhoes em , Banco do Brasil (R$6,0bi) e Bradesco(R$6,0bi) e Bradesco (R$ 5,9 bi).
  • A Narrativa: Vélez usou esses dados para vender a imagem de que o Nubank não é apenas uma startup, mas o pilar de sustentação fiscal do setor, criticando as “falsas narrativas” dos concorrentes que acusam as fintechs de pagarem pouco.

A Febraban reagiu de forma virulenta, emitindo uma nota entre ontem e hoje que tenta desmontar a reputação do banco digital.


2. O Contra-Ataque da Febraban: Um Dossier de Acusações

A Federação não se limitou a contestar os impostos. Ela realizou um “raio-x” agressivo das operações do Nubank. Vamos analisar ponto a ponto o que a Febraban alega e o contexto por trás:

A) A Acusação de “Juros Predatórios”

A Febraban rotulou o Nubank de “Campeão dos Juros Altos”.

  • O Dado: Segundo a Federação, no crédito pessoal não consignado (aquele empréstimo rápido pelo app), o Nubank cobra 110,9% ao ano.
  • A Comparação: A média dos quatro grandes bancos tradicionais para a mesma linha é de 50,5% ao ano.
  • A Análise: A Febraban insinua que o Nubank prega a democratização financeira no marketing, mas na prática cobra o dobro do preço dos “bancões”.

B) A Composição da Carteira (O argumento da “Falsa Inclusão”)

Este é um dos pontos mais técnicos e críticos da nota.

  • O Dado: A Febraban afirma que 97,7% da carteira de crédito para Pessoa Física do Nubank está concentrada em linhas de alto custo e curto prazo: Cartão de Crédito (64,8%) e Empréstimo Pessoal (32,8%).
  • O “Zero”: A entidade destacou em caixa alta que o Nubank tem ZERO participação em financiamento imobiliário (casas), veículos ou agronegócio.
  • Por que isso importa? Os grandes bancos argumentam que eles financiam o desenvolvimento do país (casa própria, safra agrícola, transporte), operações que têm margens de lucro menores e prazos longos (30 anos). Eles acusam o Nubank de “ficar apenas com o filé mignon” (crédito rápido e caro) e não contribuir para a infraestrutura econômica real.

C) O “Risco Cayman” e a Estrutura Societária

Talvez o ataque mais duro tenha sido sobre a nacionalidade da empresa.

  • A Pergunta da Febraban: “Seria uma empresa estrangeira, com sede fiscal nas Ilhas Cayman, foco em extrair lucro no Brasil para investir no exterior…?”
  • O Contexto: A holding controladora do Nubank (Nu Holdings) tem sede nas Ilhas Cayman e capital aberto na Bolsa de Nova York (NYSE), não no Brasil.
  • A Insinuação: A Febraban sugere que o lucro extraído dos brasileiros (via juros altos) não fica no país, mas vai para um paraíso fiscal, enquanto os bancos tradicionais (com sedes em SP e Osasco) reinvestiriam aqui.

D) Inadimplência Explosiva

  • O Dado: A inadimplência no Nubank seria de 3 a 7 vezes maior que a média dos grandes bancos.
  • A Lógica: O modelo de negócio do Nubank aceita clientes mais arriscados (negativados ou sem histórico), cobra juros altíssimos para compensar o risco, e lucra mesmo com muitos não pagando. Para a Febraban, isso gera “superendividamento” da população.

3. O Debate Tributário: Quem diz a verdade?

Essa é a parte mais complexa. O Nubank diz que paga mais; a Febraban diz que o Nubank paga menos. Como ambos podem estar “certos” sob suas óticas?

  • O Argumento do Nubank (Taxa Efetiva): O Nubank foca na Taxa Efetiva de Imposto (ETR). Eles alegam que, devido à eficiência e menos deduções, a porcentagem do lucro que vira imposto é maior neles (cerca de 34%) do que nos bancões (que usam brechas legais para abater impostos, como o Juros Sobre Capital Próprio – JCP).
  • O Argumento da Febraban (Alíquota Nominal e Volume): A Febraban argumenta que, pela lei, os bancos pagam uma alíquota de CSLL (Contribuição Social) maior que as fintechs/instituições de pagamento. Eles chamam a vantagem do Nubank de “meia-entrada”. Além disso, alegam que os bancos antecipam pagamentos e geram mais tributos indiretos.
  • O Fator Haddad: O Ministro da Fazenda entrou na briga recentemente questionando: “Por que um banco do tamanho do Nubank paga menos impostos que um banco do tamanho do Bradesco?”. O governo tentou equalizar isso via Medida Provisória (MP 1303), que aumentaria o imposto das fintechs, mas a MP caducou.

4. A Resposta do Nubank: “Silêncio Estratégico”

Diante da agressividade da nota da Febraban desta sexta-feira, o Nubank optou por não descer ao mesmo nível de debate público detalhado.

Em nota oficial enviada ao Money Times e outros veículos, a fintech declarou:

“Não vamos ficar respondendo aos ataques. Queremos agora focar nossa energia no que mais gostamos: continuar oferecendo os melhores produtos e serviços financeiros no mercado.”

A estratégia é clara: manter a pose de “nova economia” que não perde tempo com brigas da “velha guarda”, enquanto se apoia nos números auditados que Vélez já havia divulgado. O Nubank reitera que sua base de 110 milhões de clientes valida seu modelo.


5. Linha do Tempo da Crise (2025)

Para entender como chegamos a este ponto de ruptura:

  • Outubro/2025 – A Entrada de Campos Neto: Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central e agora executivo do Nubank, defende uma reforma tributária global (Pilar 2 da OCDE) com alíquota mínima de 17,5%, alegando que isso provaria que fintechs já pagam o justo.
  • 20 de Outubro/2025 – Primeiro Embate: A Febraban divulga estudo dizendo que a proposta de Campos Neto é “simplista” e que, na prática, bancos pagam mais.
  • 31 de Outubro/2025 – A Escalada: Isaac Sidney (presidente da Febraban) dá entrevista chamando a proposta do Nubank de “truque fiscal” e “falácia”.
  • Novembro/2025 – A Pressão Política: O governo tenta passar a MP 1303 para aumentar impostos das fintechs. Haddad critica publicamente a disparidade tributária.
  • 26 de Novembro/2025 – A Postagem de Vélez: O CEO do Nubank publica o gráfico dos R$ 8 bilhões em impostos, reacendendo a chama.
  • 04 e 05 de Dezembro/2025 – A Guerra Total: Febraban publica a nota questionando a sede em Cayman, os juros abusivos e a falta de função social do Nubank.

6. O Que Vem Pela Frente?

O Nubank corre contra o tempo para obter sua licença bancária completa junto ao Banco Central até 2026. Hoje, ele opera como conglomerado de Instituição Financeira e de Pagamento.

Ao virar “banco” oficialmente (para não perder o direito de usar a palavra em sua marca devido a novas regras), o Nubank perderá algumas das vantagens regulatórias que hoje possui, o que pode equalizar a disputa tributária, mas também pressionar suas margens de lucro.

Enquanto isso, a Febraban tenta desgastar a imagem de “bom moço” da fintech, pintando-a como um player estrangeiro predatório. A disputa deixou de ser técnica e virou uma batalha pela opinião pública e pelo bolso dos brasileiros.

João das Bets

"Sou um escritor movido pela paixão por tecnologia, apostas e inteligência artificial. Adoro explorar e compartilhar conhecimentos, traduzindo ideias complexas em conteúdo acessível e inspirador. Sempre em busca de novas formas de conectar pessoas com inovação."

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